Minha mãe era maravilhosa (todas as mães da Rua Gonçalves Crespo eram maravilhosas). Era o tipo da mãe que fazia você ser amado até quando te dava uma surra. Mesmo que ela tivesse dúvidas sobre as razões de estar batendo, eu não tinha nenhuma dúvida quanto as razões de estar apanhando. Fiquei “sem-vergonha” – às vezes fingia chorar para que ela ficasse feliz e parasse de bater logo.
Lembro de uma ocasião em que passei as férias de julho na rua brincando. Durante todo o mês a minha mãe perguntava se eu tinha feito a lição de casa e é claro que eu para ela “não se preocupar” pois tinha tudo sob controle.
Um dia antes de terminar as férias; na verdade na noite imediatamente anterior, jantei rapidinho e disse que subiria para terminar “umas coisinhas”. O tempo passou e passou e passou e eu não desci. Minha mãe nunca me viu terminando “umas coisinhas” por tanto tempo e subiu para ver o que estava acontecendo. Percebeu então que eu estava com “10 milhões” de coisas para fazer de lição de casa e mesmo que passasse a noite toda não terminaria... resultado : surra nele !!!
Certa manhã ensolarada eu saí de casa para brincar com os amigos da rua. Após as mais variadas brincadeiras fui convidado para brincar na casa do meu grande amigo Tadeu. Claro que não poderia perder tempo com detalhes tais como : avisar minha mãe onde estaria. Fui para a casa dele e lá ficamos até à noitinha. Foi muito gostoso o período em que estivemos juntos. Almocei com ele. Ao sair da casa do Tadeu estranhei o fato de ver minha mãe correndo em minha direção no meio da rua... chorando... com um misto de raiva e alívio... Bom, me lembro que comecei a apanhar no meio da rua. Como era muito esperto, ao entrar em casa corri para o banheiro e comecei a tomar banho; minha mãe não se importou de terminar a surra comigo pelado sob o chuveiro. Digamos que se tratou de um atentado ao pudor... dolorido. ... hehe... que saudades da minha mãe....
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