quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

31 TIA NENA, TIO LUIS, DEVANI, MARCIA e O PACTO

Tia Nena e o tio Luis também moravam no Tatuapé em um sobrado. Tinham duas filhas: Devani e Márcia.

O tio Luiz estava sempre envolvido com quermesses das igrejas. A Marcia era uma pré-adolescente e apesar de muito educada, pouco dava atenção para moleques como eu e meu irmão.

A tia Nena era tão legal quanto as tias Linda e Angelina. Era só a gente chegar que ela tirava tudo da geladeira para nos servir. Era difícil convencer as tias que não estávamos com vontade de comer. Hoje eu sei que era essa a forma delas demonstrarem o grandioso carinho que tinham por nós.

A outra filha era a Devani. Puxa vida, como a Devani era legal. Ela era muito amiga das filhas do tio Nicola e do Itamar, mesmo assim tinha todo o tempo do mundo para dedicar aos primos-sobrinhos moleques. Ela dava atenção de verdade e conversava com a gente de igual para igual. Levava em conta a nossa opinião.

Com o tempo, transformou-se na grande amiga da minha família. Aqui vale uma pausa para contar que lá pelos meus 26 anos, eu, Devani e Itamar estreitamos a amizade de nossas famílias. Estávamos casados e gostávamos de nos reunir. Tivemos que coordenar juntos alguns enterros, durante os quais conversávamos sobre todos os assuntos nas longas madrugadas. Em um desses velórios lembro que fizemos o seguinte “pacto”: ... "aquele dos 3 que morresse primeiro daria um jeito de retornar para contar para os que ficaram como são as coisas “do outro lado”..


Vale uma explicação. Fizemos este pacto porque tínhamos tempo de sobra nos velórios para especular sobre estes assuntos. De nenhuma forma foi algo desrespeitoso com Deus ou com qualquer Religião. Sempre respeitamos todas as crenças. (este também era um de nossos assuntos - a importância de respeitar a todos).

Lamentavelmente esses meus dois primos queridos foram morar com Papai do Céu muito cedo. Primeiro foi o Itamar e depois foi a Devani. Muito bem, neste ponto você deve estar se perguntando se um deles retornou para me contar alguma coisa.  Pois é... acho que tem muita coisa boa para se fazer do outro lado, pois estou esperando até hoje.

30 TIO WILSON E TIA NORMA



Eram tantos tios e tias..... Fico pensando como a falta de internet, Google, celular, videogames etc unia as famílias. Pelo menos a minha tinha o costume de se visitar em finais de semana. Não foi exceção com a tia Norma e tio Wilson.

Eles moravam em Rudge Ramos em um apto localizado em um condomínio de um conjunto habitacional bem legal. Tinham duas filhas: Vanda e Viviane. Só para variar as idades batiam – Vanda com meu irmão e Viviane com a minha.

Elas eram legais apesar de serem meninas. As brincadeiras não fluíam tão facilmente, mas gostávamos muito de estar juntos.

A distância entre Tatuapé e Rudge Ramos é considerável, mesmo assim sempre arrumávamos tempo para fazer ou receber uma visita.

Sei que o tio Wilson foi um grande companheiro do meu pai.

29 TIO AMERICO e TIA ROSA



Eles moravam no Tatuapé em uma avenida movimentada, perto da casa da tia Angelina. A casa era daquelas cuja porta dava diretamente na calçada. A casa parecia pequena por fora, mas era imensa. Entrando na casa, dávamos de cara para uma escada que levava aos quartos e banheiro da parte superior.  Chamava a atenção um suporte de chapéu antigo que ficava ao lado da escada. 

Na parte de baixo, do lado direito, ficava uma sala que, após o falecimento do tio Américo, serviu de quarto para a tia Rosa, que já não tinha saúde para subir as escadas. Seguindo reto na parte de baixo chegávamos na cozinha.

O tio Américo e a tia Rosa eram muito carinhosos, principalmente a tia Rosa. Não era aquele tipo de carinho dolorido da minha tia-prima Beth que insistia em apertar forte minhas  bochechas. Eram delicados, sutis e faziam a gente ter vontade de ficar mais um pouco.

28 TIO NICOLA E TIA NORINHA

Tio Nicola era o irmão mais chegado do meu avô Horácio. Junto com a tia Norinha tinham 3 filhas: Izilda, Beth e Sonia. Ele sempre foi o que mais cuidou e zelou pelo nome e tradição da família. Era advogado e gostava de conversar, contar “causos”, brincar com as crianças (daqueles que gostam mesmo, sem necessidade de fazer qualquer esforço).

De certa forma, o nome deste BLOG é uma homenagem para ele. “Histórias e Estórias” sempre foram marcas positivas da sua personalidade. Estava sempre de bom humor. Gostava muito de ouvi-lo.


Durante anos de contato, morou parte do tempo no Rio de Janeiro e parte em São Paulo. Mas cá prá nós o coração dele era mesmo carioca..


Minhas primas  já eram adolescentes e não havia espaço para muitas brincadeiras . Na verdade eu as chamava de tias e gostava muito de todas.

Eu era meio que apaixonado pela Izilda, sempre muito carinhosa e amiga. A Beth era daquelas “tias” que adorava apertar minhas bochechas. Era uma tia clássica -, bastava me ver para apertar as bochechas e dizer que era muito bom apertá-las. Esse tipo de expressão de carinho pode deixar uma criança traumatizada por mais de 50 anos – eu sou a prova viva desse fato. .A Sonia parecia a mais séria e não tinha muito tempo para crianças.

Estas 3 primas eram sim muito amigas da Devani (filha da tia Nena e Luis) e do Itamar (filho da tia Linda e Osvaldo). A idade deles “meio que batia” . eram os jovens da família. 

27 FOTOS IMPORTANTES

Duas fotos memoráveis.


Tio Osvaldo e Tia Linda, Tia Edir e Tio Savério, Vó Irma e Vô Horácio

Vô Horácio, Vó Irma, Tio Wilson, Tia Norma, Tio Américo e Tia Rosa.

26 TIO ZINHO e TIA DINA


Parece redundância dizer, mas o tio Zinho e a tia Dina eram muito legais. Tinham 3 filhos: Joao, Cesar e Celso.  Moravam perto; a casa deles ficava onde hoje é o metrô Tatuapé. Com a desapropriação do Metrô mudaram para outra casa no mesmo bairro.

Dos três filhos, o Cesar tinha idade próxima à do meu irmão e o Celso da minha. As brincadeiras, quase sempre, eram separadas – eu e Celso; Júnior e Cesar.

O Celso era um “moleque” muito legal. Nossos amigos de rua eram comuns, não havia frescuras, as brincadeiras “batiam” muito bem.

O detalhe é que o Celso devia ser mais “danado” do que eu, pois que me lembre, quebrou o braço umas 3 vezes enquanto criança. Vale aqui ressaltar que estou próximo dos 49 e nunca quebrei um braço ou uma perna – uma grande frustração, principalmente na infância e adolescência..

Como sempre,, nossos pais ficavam papeando e a criançada se perdia em brincadeiras. O João era bem mais velho e, portanto estava “fora” da “turminha”.

Apesar de ser mais velho e não brincar muito comigo, o Cesar era uma espécie de primo muito querido e admirado. O cara era, apesar de grande, muito atencioso no trato com os pequenos, especificamente comigo.

Eles tinham na sala uma grande vitrola de móvel de madeira, cor clara. Eram tempos de Jackson Five e “BEEN”.

25 “TIOS” CARLOS e BETH



Com a ajuda do meu irmão sei que a casa deles ficava na Rua  Gabriela Mistral, na Penha, antes de chegar na av Dr. Assis Ribeiro. Eram super legais e possuíam 3 filhos (Renato, Ricardo e Simone) cujas idades “batiam bem” com a nossa (minha e do meu irmão). A Simone era a caçula, além do que, menina, portanto quase sempre se dava muito mal nas brincadeiras.


O quarteto de meninos se dava muito bem e as brincadeiras não tinham fim. Quando os visitávamos ou quando eles nos visitavam não existia nenhum tipo de frescura. O dono da casa ia logo pegando e disponibilizando todos os brinquedos e as brincadeiras fluíam, uma melhor do que a outra.

Achava estranho que ao invés de chamarem de pai e mãe, meus primos tratavam seus pais diretamente pelo primeiro nome: Carlos ou Beth. Achava isso muito legal. Parecia que os aproximava ainda mais.

O Carlos e a Beth tratavam toda a nossa família muito bem.  O Carlos sempre foi envolvido com pilotagem de aviões e, consequentemente, era um tipo de tio herói secreto.

Sempre que nos encontrávamos, os pais ficavam conversando de um lado e os primos não perdiam tempo com brincadeiras. A regra era que logo a Simone chorava e chamava pelos pais, devido alguma encrenca causada pelos quatro, que sempre negavam.

A melhor pizza “de pizzaria” que comi na vida foi com eles. Fomos todos em uma pizzaria que não tenho idéia do nome e nem de onde fica (meu irmao acaba de me lembrar - 30/12/2010 - PIZZARIA DO PEDRO - 100 mts da casa dos tios) (sentamos todos à volta da mesa, muito papo, muitas risadas, brincadeiras e para completar uma pizza maravilhosa e borbulhante.



Claro que se a melhor pizza eu comi com eles, sou suspeito para falar do quanto gostava de estarmos juntos. Nunca mais ouvi notícias.

24 - TIA LINDA e TIO OSVALDO

Tia Linda era mais uma das irmãs do meu avô Horácio. Era casada com o Tio Osvaldo e possuía um único  filho – Itamar.

Não faço idéia de onde ficava sua casa. Seja onde for, o acesso se dava através de uma comprida e escura escada. A tia Linda,, tal qual a tia Angelina, sempre nos recebia muito bem. O tio Osvaldo era do tipo fechado e, portanto,, não despertava maiores encantos nas crianças..

O ponto máximo da casa era um relógio antigo de mesa, com móvel de madeira, localizado sobre um móvel da sala, que batia uma espécie de sino a cada hora. O relógio e principalmente o seu som eram maravilhosos.. Sempre que tocava me transportava para dentro dos filmes de terror da época, incluindo alguns episódios dos três patetas cuja trama se dava em casas mal-assombradas, cheias de fantasmas, passagens secretas etc.,  

O Itamar era mais velho do que eu e meu irmão e as brincadeiras nem sempre davam muito certo, porém, ele tinha uma coleção de gibis de dar inveja. Algumas vezes nos deixava mexer em exemplares com números repetidos.

23 TIA ANGELINA E TIO EDMUNDO

Tia Angelina era irmã do meu avô Horácio e possuía a casa rosada mais linda da parte da família de São Paulo. Casada com o tio Edmundo, que faleceu quando eu ainda era bem pequeno..

Sua casa ainda fica na Rua Santo Elias (rua do Hospital Municipal do Tatuapé). É um belo sobrado que na época possuía um imenso quintal onde a família se reunia para inesquecíveis festas de Natal e Ano Novo. Festas grandiosas, com tudo o que uma família feliz tem direito. Todos os primos e primas estavam lá.

A tia Angelina devia ser uma espécie de Comandante de todos os adultos. Toda a família fazia questão de estar presente, praticamente sem exceção. Às vezes, sentávamos em volta de várias mesas enfileiradas para jogar “tombola”,, tal qual fazíamos na casa de Santos.

A parte inferior da casa possuía uma cozinha e ampla sala. Uma grande escada levava para a parte superior do sobrado.

Pois então, o problema estava exatamente naquela escada, ou melhor, no quadro que existia na escada. Bem no seu início ficava um “enoooOOORRRMMMEEE” quadro com a foto (ou pintura) do falecido tio Edmundo... Imaginem... meus olhos e mente (de moleque sem nada melhor a fazer) só conseguiam  ver um tio sério, tenebroso, inquietante e ameaçador. Nem preciso dizer que tinha pânico de olhar nos olhos daquele quadro. Tinha certeza que se olhasse fixamente, ele piscaria e me assombraria pelo resto da eternidade. Eu até subia aquelas escadas, porém, com todo o cuidado de não olhar para os olhos do tio Edmundo.


Não ousava mexer nas coisas da tia Angelina..... vai que meu tio estivesse olhando .....

22 CASA DE SANTOS


Inicialmente era um barracão em São Vicente. Ficava em uma rua muito próxima à Pedra de Yemanjá: saindo da praia, atravessávamos a avenida e a linha do trem. Então entrávamos em uma rua de terra que possuía biquinhas de água nas duas extremidades. O barracão ficava quase no centro da rua.

Pelo que sei o barracão era do tio Osvaldo, marido da tia Linda e pai do Itamar. Era muito bom quando toda a família passava alguns dias juntos. Geralmente iam as filhas do meu tio Nicola: Beth e Sonia (a outra filha – Izilda – sempre morou no Rio de Janeiro), a tia Nena e tio Luiz e suas filhas Marcia e Devani, os tios Carlos e Beth e seus filhos Renato, Ricardo e Simone, meus avós, meus pais, eu e meu irmão.

O barracão nem era tão grande, basicamente dois grandes quartos e o povo, mesmo que não estivessem todos, se amontoava pelos cantos. Bem em frente havia um grande quintal de terra com algumas árvores e ao fundo ficava a encosta de uma das grandes montanhas de Santos.

Durante as noites jogávamos “TOMBOLA” (atual bingo). As cartelas tinham preço simbólico e era uma festa ver todos jogando e brincando ao “cantarem” os números.

A água potável tinha que ser apanhada nas biquinhas. Nós usávamos a biquinha que ficava – saindo da casa, do lado esquerdo. Algumas vezes encontrávamos lagartos enormes se refrescando e tínhamos muito medo de suas “rabadas”, que segundo contavam, eram doloridas, venenosas e em alguns casos, fatais.

À noite, as primas Beth, Devani e Sonia e mais o Itamar contavam muitas estórias assustadoras e os pequenos (como eu) ficávamos encolhidos, com medo, e querendo ouvir mais. Existiam estórias do homem do saco, do fantasma que assoviava e tantas outras.
Lembro que em certa ocasião o pessoal comprou um montão de camarões e ostras e ficamos todos, no quintal, debaixo de uma árvore limpando aquelas coisas fedidas.  O gostoso era o fato de estarem todos juntos um tempão jogando conversa fora.

Com o tempo deve ter ocorrido alguma confusão e o meu avô construiu uma casa de alvenaria exatamente onde ficava o quintal.  O que eu sei é que o barracão acabou sendo completamente anulado pela casa. O acesso que antes era por um amplo quintal se restringiu a um pequeno corredor.

A casa era do meu avô e mesmo assim o pessoal a freqüentava. Na parte da frente havia uma pequena varanda e o pessoal se sentava para ler revistas O CRUZEIRO, gibis ou fazer palavras cruzadas.

Minha mãe fazia pizzas na panela de pressão. Ela mesmo fazia as massas e abria os disquinhos. Aprendeu com minha avó e se transformou em expert de pizzas. Eram deliciosas para o jantar..

Com o tempo as casas foram vendidas, mas as recordações maravilhosas ficarão para sempre nas mentes de quem a freqüentou.

21 NONA



Demorei muito tempo até entender que a Nona é a Dona Adelaide, mãe da minha avó e do tio Guiela (Tio Guilherme).

Sua casa ficava em uma vilinha, numa travessa da Celso Garcia, próximo ao Hospital Municipal do Tatuapé.  Não me recordo muito bem dos detalhes da vilinha. Passando pelo portão da entrada, havia várias casinhas térreas com cozinha, banheiro e 1 quarto. A nona morava numa delas, passando o portão, do lado esquerdo, a 2ª ou 3ª casinha. Sempre nos recebia muito bem, principalmente eu e meu irmão.

O café era feito em coador de pano. O quarto da nona possuía um enorme guarda roupas antigo e escuro. Claro que eu adorava ficar mexendo nas coisas dela. Eu parecia mais um geólogo investigando e descobrindo.




Ela gostava de se sentar em uma cadeira de madeira que ficava no quintal bem em frente a porta da sua cozinha. Então nos pegava no colo e conversava com minha mãe e avó.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

20 Língua presa

rDe acordo com minha mãe e alguns amigos, tenho “língua presa”. Eu mesmo nunca percebi nada de errado na forma de falar, mas já que insistem, devo ter sim esse pequeno problema de fabricação.


Visitamos alguns fonoaudiólogos para descobrir o que havia errado com minha fala. Visitamos tantos médicos que perdi a conta. Pediam que eu falasse palavras estranhas do tipo PARALELEPÍPEDO, CLARA, CARA, VARA, PARA etc. Até que me saia muito bem nessas etapas, o meu grande problema estava relacionado às palavras “complexas” do tipo ARARAQUARA. ARARUAMA, ARIRANHA etc.



O clímax da tensão dos treinamentos se dava quando minha mãe me colocava sentado em sua cama, de frente para um espelho e pedia que eu falasse dezenas e dezenas de vezes as “palavras complexas”.  Ela ficava brava (provavelmente triste) porque eu não conseguia falar direito. Não era mole não. De vez em quando eu até levava uns tapas, mas a única recordação que tenho é de carinho e amor. Tenho muitas saudades das broncas da minha mãe.

19 Guerra de Mamonas



Creio que essa brincadeira não existe mais no nosso planeta. Inclusive, faz tempo que não vejo mais esse tipo de árvore.

A mamona é uma “arma” verde e redonda, do tamanho de uma bola de gude, cheia de espinhos relativamente flexíveis, excelente para a realização de guerras entre colegas da própria rua ou de ruas rivais.

O primeiro passo era encontrar as mamonas mais secas possíveis, cujas pontas machucavam mais. Depois, separávamos os “times” e finalmente iniciávamos a guerra. O objetivo da brincadeira era machucar o colega. Ajudava bastante o uso de estilingue.  Valia de tudo: subir em telhados, árvores, pular no quintal do vizinho, usar carros, postes, animais e crianças como escudo etc.

O final da guerra de mamonas era sempre o mesmo: um monte de crianças felizes, cheias de vergões por todo o corpo. Quando alguém era acertado diretamente no olho machucava um pouquinho mais, de qualquer forma, não me recordo de nenhum acidente mais grave.



18 Faltando água na rua



Era comum faltar água na rua. Nessas ocasiões, a mãe do Valtinho (do Karmanguia) deixava os vizinhos buscarem água no poço que possuía em sua casa. Eu e meu irmão éramos convocados para ajudar a carregar baldes para lá e para cá.

O grande barato dessas ocasiões era poder entrar, olhar e mexer nas coisas da casa do Valtinho.

Enchíamos o tanque, barris, baldes e todos os lugares onde era possível armazenar água. O uso do banheiro ficava restrito. Quando a água demorava a voltar, além de restrito eu diria que ficava proibitivo.

 Foi naquela época que aprendi a a esquentar água e tomar banho de canequinha, jogar balde de água depois de usar o banheiro etc. 

17 Cuspindo no Karmanguia do Valtinho

O vizinho de uma das casas (Valtinho) era um jovem com seus 18/19 anos e conseqüentemente não era chegado à molecada de 7 a 11 anos.  Na verdade eu sempre o achei estranho, metido e antipático. É claro que ele não estava "nem aí" e nem percebia que existíamos.




O Valtinho possuía um Karmanguia vermelho super equipado e bonito. Nossa diversão era cuspir no carro dele e o grande desafio era acertar o carro em movimento.  Pois bem, uma das boas lembranças foi o dia em que o Valtinho passou com seu Karmanguia vermelho bonito e equipado e eu e meus amigos cuspimos com toda força e pontaria e EU ACERTEI em cheio. O problema foi que o Valtinho brecou com uma daquelas brecadas de fazer os pneus cantarem,  e saiu correndo atrás da gente falando um monte de palavrões e nos ameaçando.

Que dia memorável. Eu me sentia um vencedor das olimpíadas por ter acertado aquele belo carro em movimento.  

16 National Kid e Batman

O máximo da ficção científica da época era retratado através dos filmes do National Kid, Superman,  Perdidos no espaço, Batman e Cia. Para aqueles que não sabem, o Nacional Kid foi criado como uma campanha publicitária no Japão para a promoção dos radinhos NATIONAL. A campanha deu tão certo que virou uma série de TV cuja fama dura até hoje.


Claro que eu tenho um boneco do National Kid na minha coleção.

De tanto assistir esses seriados, eu e meu irmão tínhamos quase certeza de que poderíamos voar a partir do salto certo da janela do quarto da minha mãe, que ficava na parte de cima do sobrado. Por muito pouco eu e meu irmão não pulamos de verdade.  Se querem saber, até hoje acredito que o problema era a capa errada. Se tivéssemos dinheiro e, consequentemente, condições de comprar a capa certa, teríamos conseguido e hoje seríamos super-heróis cheios de estórias para contar.

Lembro da minha mãe gritando... SAI DESSA JANELA MENINO!!!!!! Algumas vezes a cinta “cantava”.



Pai
Pai
Pai

15 Vestindo vestidos para a prima

Meu pai é filho único e minha mãe possuía vários irmãos (Marta, Miriam, Nego (nunca soube seu verdadeiro nome) e Mauro. Nosso relacionamento sempre foi estreito com a Tia Marta, que por sua vez era casada com o tio Natal e possuía uma filha única – Rosana – minha prima.

Eu sempre gostei muito da tia Marta, Tio Natal e Rosana. A Tia Marta merece um comentário todo especial. Era muito mais que a irmã da minha mãe. Uma verdadeira segunda mãe e amiga de toda a nossa família. Sabe aqueles momentos mais difíceis em que todos se afastam, quando precisamos de colo e “braço”? Pois então, esses eram os momentos em que a Tia Marta aparecia e ficava. Foram muitas as ocasiões em que ela apareceu durante algum tipo de crise, seja por doença da minha mãe e vó, seja por problemas domésticos mesmo. A tia Marta sempre estava sorrindo, brincando, apertando minhas bochechas e coisas do tipo.



O tio Natal era caminhoneiro e super bacana brincar em seus caminhões. Seu hobby era soltar balões (naquela época era “legal”).

Finalmente tinha (e ainda tenho) minha prima Rosana. Ela sempre foi caipira. Os passeios na casa dela ou dela em nossa casa era sempre uma festa. Volto a dizer que vivemos em uma época em que não existiam videogames, computadores, celulares, internet, Google etc.

Não gostava muito de brincar de “casinha”, mas até isso a gente encarava. A Rosana sempre foi considerada nossa irmã. (Ainda é).


A única coisa que eu não gostava muito era do fato da minha mãe fazer as roupas da Rosana. O problema é que ela tinha a minha estatura e a minha mãe não tinha nenhuma dificuldade em usar meu corpinho másculo como manequim para os vestidos da Rosana. Esse tipo de coisa pode causar traumas por toda uma vida.... Que nada, era tudo muito divertido e tem o lado positivo, sem qualquer preconceito, posso afirmar que usei vestidos o suficiente na infância e agora que estou grandinho não preciso me preocupar com o risco de “mudar de lado”. A minha cota do “lado feminino” já foi dada.

Todas as crianças do mundo deveriam ter uma Marta.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

14 - INPS


Acordávamos bem de madrugada e minha mãe enchia de blusas eu e meu irmão, incluindo uma espécie de boné com tapa-orelhas. Tomávamos café com leite rapidinho e lá íamos os quatro no fusca verde e claro para o INPS na rua Martins Fontes. Meu pai nos deixava na porta e ia trabalhar. Lembro muito bem da garoa da madrugada. Eram assim as nossas visitas ao médico naquele tempo. Ficávamos horas aguardando. Minha mãe tentava guardar o lugar na fila e ao mesmo tempo dominar as duas pestinhas em formato de gente – eu e meu irmão – pois logo fazíamos amizade com outras crianças e ficávamos correndo entre as escadas, corredores e colunas do prédio.

Quando a médica chamava, colocava um palito amargo na nossa boca, olhava a garganta, pesava e depois ficava conversando com minha  mãe.

Eu e meu irmão achávamos tudo muito legal, inclusive nesse dia a gente nem ia para a escola. Depois do médico, via de regra, passávamos na casa da tia Augusta, que morava em um prédio perto do prédio do INPS. Lembro que a tia Augusta sempre estava com o rádio ligado na Rádio  Bandeirantes e ouvia um programa chamado – O TRABUCO – apresentado pelo Vicente Leporaci.


Minha mãe gostava muito da tia Augusta. Respeitava ela demais. Ficavam conversando de uma a duas horas enquanto eu e meu irmão ficávamos mexendo nas coisas da tia.

Finalmente, depois do passeio no INPS e na casa da tia Augusta, retornávamos para nossa casa.

Acredito que todas as crianças da Gonçalves Crespo se consultavam no INPS e depois passavam pela casa da tia Augusta.

13 - Light


Meu pai passou toda sua vida profissional trabalhando na Light. Certo dia me levou para visitar seu escritório que ficava no prédio do atual Shopping Light – Viaduto do Chá – Centro de São Paulo. Este prédio fica bem em frente ao prédio onde naquela época ficava o MAPPIN.

Aquele dia foi mágico. O prédio era lindo. Cheio de detalhes dourados. Lembro que em alguns locais dava para ver o vulto das pessoas caminhando no piso da parte superior (não sei se era isso mesmo ou se é alguma fantasia da minha cabeça). Os móveis do escritório eram na maioria de madeira escura, pareciam muito pesados, nenhuma relação com os móveis de hoje em dia. Existiam máquinas de escrever (manuais) por todos os lados. Também haviam máquinas de calcular daquelas com manivelas. Lustres maravilhosos.



O cheiro do lugar .... na verdade aquilo não era um cheiro; era sim um perfume de madeira envelhecida misturada com cigarro, charuto e cachimbo (naquele tempo eles podiam fumar em ambientes fechados).

Os amigos do meu pai me receberam muito bem. Me deixaram sentar nas cadeiras e brincar com alguns papéis. Não me recordo exatamente do que falaram, mas lembro que falavam bem do meu pai e eu senti o maior orgulho dele. Aquele foi um passeio inesquecível.  


Todos os pais da Gonçalves Crespo deveriam trabalhar no prédio da Light e levar seus filhos para conhecerem seus escritórios, tal qual o meu.

12 - Salmo 23


Minha mãe fazia da hora de dormir um momento de extrema paz, carinho e prazer. Todas as noites levava um copo de café com leite na cama, falava um pouco comigo e com meu irmão e recitávamos juntos o Salmo 23.

Acredito que todas as mães da Rua Gonçalves Crespo faziam o mesmo com meus colegas. Aquilo nos fazia muito bem. Eu nem entendia direito o significado de tamanho amor. Com o tempo comecei a perceber que o significado daquele momento era maior do que eu jamais conseguiria compreender.

Hoje em dia fico em hotéis cheios de mordomias e frescuras, mas nada se compara ao copo de café com leite e a leitura do Salmo 23 na presença da minha mãe e meu irmão. Queira Deus que todas as mães do mundo façam o mesmo com seus filhos.

11 - Balões


O campo de futebol de várzea era palco de grandes clássicos futebolísticos.  Em alguns domingos aceitava o convite do meu avô para assistirmos aos jogos. Era de terra e ficava situado na Rua Teixeira de Melo – subindo em direção à Av. Celso Garcia. Ficávamos sentados em um barranco sem nenhum conforto. Lembro de muita terra vermelha, palavrões e discussões.



Esse mesmo campo servia para reuniões de “clubes de baloeiros”. Assisti alguns balões serem soltos. Imensos. Vários metros de altura. As vezes pegavam fogo ainda em terra; via de regra subiam e iluminavam o céu. Enquanto subiam, eu sonhava e fazia pedidos, acreditando que os balões pudessem levá-los mais pertinho de Deus.

Final de tarde e lá estava eu caminhando sem fazer nada pela rua. De repente observei um pontinho no céu que parecia um balão. Adorava ver os balões. Estava caindo, o que era muito comum – balões eram comuns.  O pontinho aumentava... e aumentava... e aumentava... até me dar conta que existia a possibilidade de cair perto do local onde me encontrava.

A rua continuava vazia e o balão se aproximando. Fiquei empolgado com o fato de  ninguém ainda ter  percebido aquele balão caindo. Quanto mais se aproximava maior ficava. Era imenso. Nunca tinha visto um balão tão grande. E vinha diretamente em minha direção. A tocha estava apagada.  Comecei a imaginar se era mesmo um balão ou uma nave alienígena disfarçada. ... (até hoje não sei a resposta).

Faltava pouco para o balão cair em minhas mãos. Todo aquele “balaozão” seria somente meu. Começava a me preocupar sobre como faria para dobrá-lo. Cairia exatamente na entrada da Vilinha onde morava o meu amigo Ricardo.

Para minha surpresa, poucos segundos antes do MEU balão chegar, apareceram “moleques” de todos os lados. Alguns com paus na mão, alguns chegando de carro, todos se dizendo donos do balão e pedindo para que ninguém chegasse perto (mas o balão era meu... afinal caiu na minha rua)... Infelizmente eu não tinha tamanho para enfrentar aquele exército de proprietários do balão. Imaginei que o balão estivesse com medo de chegar ao solo e não era para menos, assim que caiu foi completamente destruído pela molecada. Não consegui chegar nem perto do MEU balão.

Sonhei muitas noites com aquele balão. Os sonhos que os balões carregam realmente são gravados em nossos corações.

10 - Colégio São Francisco de Assis

Estudei no Colégio São Francisco de Assis do primeiro ao quarto ano. Estudava à tarde. Meu pai vinha almoçar em casa e aproveitava para trazer meu irmão que estudava na parte da manhã e, após o almoço, me levava à escola.



Era uma escola de freiras e desde o primeiro ano me acostumei a chamar a todos que não fossem alunos de “irmãos”, eu nunca me preocupei com aquele tratamento, na verdade até gostava. Era “irmã” na cantina, na Diretoria, na ginástica, com as ajudantes da limpeza e tudo mais.

O prédio da escola era lindo. Na parte externa tinha a quadra descoberta e ao lado, a parte coberta que servia de auditorio para um palco montado em uma das extremidades.

Na hora do recreio abria a lancheira com leite e Ovomaltine ou Toddy e comia um delicioso sanduíche de óleo, pimenta e sal. Exatamente!  Pão, óleo, pimenta e sal. Era uma delícia !

Lembro que dentro do vidro de Toddy vinham pequenos bonequinhos de brinde. Era muito legal abrir o vidro e encontrar aqueles bonequinhos. Hoje em dia não se faz mais Toddy como antigamente .



A escola tinha uma linda fanfarra que desfilava em diversas ocasiões cívicas. Meu irmão participava da fanfarra e ficava muito bacana aquele uniforme verde com detalhes dourados. Eu tinha o maior orgulho dele. Ganhou várias medalhas durante o período da fanfarra. Nunca me envolvi demais com a fanfarra, pois pasmem! Para participar era necessário perder tempo de rua para os ensaios. Isso seria inaceitável.


Depois da minha mudança aos 12 anos, entrei em uma escola pública e chamei a moça da Cantina de “irmã”, tendo a agradável resposta... “não sou tua irmã não.. seu moleque !!!!”.  Aposto que ela nunca estudou no São Francisco de Assis.....

9 - Apanhando pelado no banheiro

Minha mãe era maravilhosa (todas as mães da Rua Gonçalves Crespo eram maravilhosas). Era o tipo da mãe que fazia você ser amado até quando te dava uma surra. Mesmo que ela tivesse dúvidas sobre as razões de estar batendo, eu não tinha nenhuma dúvida quanto as razões de estar apanhando. Fiquei “sem-vergonha” – às vezes fingia chorar para que ela ficasse feliz e parasse de bater logo.


Lembro de uma ocasião em que passei as férias de julho na rua brincando. Durante todo o mês a minha mãe perguntava se eu tinha feito a lição de casa e é claro que eu para ela  “não se preocupar” pois tinha tudo sob controle.

Um dia antes de terminar as férias; na verdade na noite imediatamente anterior, jantei rapidinho e disse que subiria para terminar “umas coisinhas”. O tempo passou e passou e passou e eu não desci. Minha mãe nunca me viu terminando “umas coisinhas” por tanto tempo e subiu para ver o que estava acontecendo. Percebeu então que eu estava com “10 milhões” de coisas para fazer de lição de casa e mesmo que passasse a noite toda não terminaria... resultado : surra nele !!!


Vô Horácio
Certa manhã ensolarada eu saí de casa para brincar com os amigos da rua. Após as mais variadas brincadeiras fui convidado para brincar na casa do meu grande amigo Tadeu. Claro que não poderia perder tempo com detalhes tais como : avisar minha mãe onde estaria. Fui para a casa dele e lá ficamos até à noitinha. Foi muito gostoso o período em que estivemos juntos. Almocei com ele. Ao sair da casa do Tadeu estranhei o fato de ver minha mãe correndo em minha direção no meio da rua... chorando... com um misto de raiva e alívio... Bom, me lembro que comecei a apanhar no meio da rua. Como era muito esperto, ao entrar em casa corri para o banheiro e comecei a tomar banho; minha mãe não se importou de terminar a surra comigo pelado sob o chuveiro. Digamos que se tratou de um atentado ao pudor... dolorido. ... hehe... que saudades da minha mãe....

8 - Bombinhas, muros destruídos e hospital.


Era muito bacana brincar com bombinhas. As mais comuns eram as fininhas e compridas, com um pavíl de aproximadamente 1 centímetro. Claro que não prestavam para outra coisa senão serem desmontadas aos montes para formar uma grande quantidade de pólvora e esta sim, transformar-se em uma bomba de respeito.

Certa vez colocamos uma dessas “bombinhas” dentro de um tijolo no muro da vilinha. Resultado: parte do muro caiu. Que maravilha !!! As crianças se fazendo de “não sei como é que isso foi acontecer”, perguntando um ao outro : “quem é que colocou essa bombinha aí ?” e até “como é que esse muro foi cair assim?”. Foi divertidíssimo derrubar aquele muro. Tenho muito orgulho daquele dia.


Em outra ocasião o Emilinho teve a brilhante idéia de explodir o conteúdo da pólvora de diversas bombas com um pedregulho. Esse processo consiste em fazer um montinho (ou montão)  de pólvora e colocar sobre ele um pedregulho. Finalmente algum maluco (Emilinho) bate o pé com força no pedregulho, que em atrito com o solo faz faíscas.... que acende a pólvora e tudo deveria funcionar como um relógio, exceto pelo fato do Emilinho ter ido para o hospital. Acredito que usamos um pouquinho a mais de pólvora... É ! foi isso sim. Acho que o Emilinho continua com o pé dele até hoje, inclusive com todos os dedos.... notem bem... “acho”.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

7 - A Rua

Com certeza a Rua Gonçalves Crespo era o centro do universo. Minha casa ficava bem no meio da rua. De um lado a Rua Tuiuti,  com o  Colégio Espírito Santo bem na esquina, ao lado do metrô Tatuapé (que na época não existia) e do outro lado, a Rua Teixeira de Melo.


Vivi nessa rua até os 12 anos. Pensando aqui com meus botões ... 12 anos que se eternizaram em minha mente.

Saindo da Rua Tuiuti em direção à minha casa, passava pela casa do Tadeu, do Emilinho, do Pedrinho, Paulinho e Marcia. Antes de chegar, havia ainda 2 vilinhas – uma de cada lado da rua – em uma morava o Ricardo e na outra o Agnaldo, Ronaldo, Reinaldo e vários colegas cujos nomes teimam em se perder no tempo.

Bem em frente a minha, ficava a casa do Paulo, Carlos e Angela (não citarei o sobrenome). A mãe deles era muito amiga da minha e viviam juntas prá lá e prá cá – lembro que nem tocavam campainha – iam entrando.  Seguindo adiante em direção à Teixeira de Melo estavam as casas de tantos outros amigos. Lembro em especial da casa da Bia, minha namorada secreta, tão secreta que nem ela sabia.

Essa rua foi palco de dezenas de milhões de momentos felizes. Brincadeiras e treinos intermináveis: esconde-esconde, mana-mula, mãe-da-rua, peão, pipa, bombinhas, queimada, guerra com mamonas, taco, corda, bolinha de gude, carrinhos (geralmente de plástico), clássicos do futebol mundial - partidas “contra” a Rua Martins Pena – nossa arqui-rival em tudo.

Tio Osvaldo (marido tia Linda) + Vô Horácio e Tio Nicola.

Sentia um orgulho danado em ser chamado de “rueiro” por minha mãe. Eram tempos em que se podia passar o dia na rua. Sempre tínhamos vários amigos para brincar.  Deveria haver uma lei obrigando todas as crianças a nascerem na Gonçalves Crespo com os mesmos amigos e brincadeiras que eu tive, somente podendo se mudar após os 12 anos.

Vô Horácio no Viaduto do Chá.



A internet e os videogames de última geração são maravilhosos, mas ainda não aprendemos a compatibilizar seu uso com a infância saudável de outrora, em que o radinho era o grande avanço da tecnologia.